MIS realiza encontros com fotógrafos e curadores da exposição Nova Fotografia 2023
Eventos gratuitos acontecem nos dias 17 e 26 de outubro
O MIS promove, como programação paralela à exposição Nova Fotografia 2023, encontros entre artistas e curadores do projeto. O próximo bate-papo acontece no dia 17 de outubro, entre a curadora Carollina Lauriano e a artista Val Souza, que trazem uma conversa sobre o processo de curadoria para a exposição “Vênus como mirada”. Já no dia 26, a curadora Nancy Betts se reúne com a fotógrafa Tayná Uràz para um bate-papo sobre seu projeto “Luz da manhã”.
Nesses encontros, o público terá a oportunidade de entender as diversas etapas de concepção de uma das exposições que compõem o Nova Fotografia, da inscrição na convocatória à exposição finalizada, incluindo curiosidades sobre toda a etapa de produção.
Desde 2011, o Nova Fotografia seleciona, por meio de convocatória, seis trabalhos de artistas promissores, que se destacam pela qualidade e inovação. Além das exposições, que ganham um acompanhamento curatorial individual, esses projetos também passam a fazer parte do acervo físico e digital do MIS (instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo).
Os trabalhos selecionados são expostos em duas etapas. Nesta segunda seleção da temporada 2023, que fica em cartaz até o dia 12 de novembro, o público do MIS pode conferir as séries Luz da manhã, de Tayná Uràz; Eu nem faço rap, de João Medeiros; e Vênus como mirada, de Val Souza. O acompanhamento curatorial fica a cargo de Nancy Betts, Ronaldo Entler e Carolina Lauriano.
Sobre as obras
Vênus como mirada – por Carolina Lauriano: “Para o programa Nova Fotografia, Val Souza apresenta o projeto Vênus como mirada, trazendo novos elementos pictóricos para discutir a construção do imaginário social sobre o corpo da mulher negra, a partir das fotografias do alemão Alberto Henschel.
Vênus como mirada surge para questionar tais imagens produzidas por Henschel, propondo uma nova leitura contemporânea. Em uma primeira camada, Val Souza nos instiga a pensar a complexa relação entre fotógrafo e fotografado, tomando como hipótese inicial os valores político-sociais deterministas projetados no imaginário, a partir da iconografia sobre o negro produzida por fotógrafos europeus no século 19. Quando adensamos a camada de gênero, observamos como tal relação também corroborou para uma intenção de olhar sobre o corpo da mulher negra, reiterando noções de exotização, produzindo uma dupla violência sobre esse corpo.
Utilizando-se dos recursos do autorretrato, a artista criou uma série de lenticulares que sobrepõe imagens de Henschel às suas próprias, construindo uma narrativa de emancipação, liberdade e direito ao desejo. Ao observarmos uma imagem do passado transformar-se em uma imagem do agora, tomamos como direção uma construção de futuro.”
Luz da manhã – por Nancy Betts: “A intimidade de Luz da manhã nasce da relação com seu próprio nome de origem indígena, escolhido por sua mãe, e se refere aos astros celestes, à estrela da manhã. Ao rever suas primeiras referências de fotografia, os álbuns de família, muitas respostas não se encontravam nas poucas imagens, sendo a oralidade de sua mãe e tia-avó essencial para fundar um imaginário. Assim, as poucas fotografias da família de Tayná tornaram-se documentos da sua ancestralidade – nos quais a falta de imagem, apagamentos, violências e traumas fazem parte do passado.
Pela intenção com a prática da transformação, sua busca por imagens nunca vistas cruza a fronteira do particular. A artista apresenta sua exposição por meio de um dispositivo – para Foucault, a função do dispositivo é ser uma estratégia de pensamento –; é essa força de pensar que revela, com seu processo de ficcionalização. Intervindo em arquivos, “autoficciona” as andanças de seus ancestrais por esse território; trabalha, ainda, sobre a terra, para cultivar suas raízes, semeando suas memórias.
Muda a experiência do tempo, as intervenções estabelecem um kairós – o momento eternizado, não medido pela linearidade de Chronos, mas sim pelo afeto. É por meio desse sentimento que seu anseio de pertencimento se completa, ao preencher lacunas e evidenciar o apagamento. Como ela declara, usa o dispositivo para ressignificar, ritualizar, para trazer uma consciência e cultuar a imagem e a não imagem, criando, ao mesmo tempo, seu lugar na ausência e a afirmação de sua presença.”
Sobre as artistas e curadoras
Val Souza (São Paulo, SP, 1985) é artista visual e vive entre São Paulo e Salvador. Sua prática artística atravessa os campos da filosofia e dos estudos culturais. Com forte interesse pela história e iconografia das mulheres negras, a artista incorpora fotografia, vídeo e instalação por meio de uma exploração contínua de autoexposição e subjetividade. Em 2020, recebeu a Bolsa de Fotografia ZUM/IMS.
Carollina Lauriano (São Paulo, SP, 1983). Vive e trabalha em São Paulo. É formada em Comunicação Social com ênfase em Jornalismo. Tem extensão em “Pesquisa em arte, design e moda”, pela Central Saint Martins/UAL, atuando como curadora independente desde 2017. Entre 2018 e 2020, foi curadora e gestora do Ateliê397, um dos principais espaços independentes de arte de São Paulo. Em suas pesquisas, interessa discutir a inserção, desafios e conquistas de jovens mulheres artistas no mercado da arte. Entre os principais projetos realizados, estão as exposições Corpo além do corpo, que discutiu o corpo queer e a transexualidade feminina e a busca pelo protagonismo de novos corpos na sociedade; e A noite não adormecerá jamais nos olhos nossos, na Galeria Baró, primeira exposição a reunir vinte artistas racializadas em uma galeria comercial para apresentar e discutir a produção de corpos dissidentes dentro do mercado de arte. Foi curadora adjunta da 13ª edição da Bienal do Mercosul (2022) e coordenadora da residência artística Usina Luis Maluf.
Tayná Uràz (Petrópolis, RJ, 1995) é artista visual, fotógrafa, filmmaker e pesquisadora de imagem. Vive em São Paulo, trabalha entre Rio de Janeiro e São Paulo. É bacharel em Artes pela Universidade Federal Fluminense. Em seu trabalho, emprega a imagem como memória mágica e conectiva, explorando seus desejos de conhecimento territorial para reconhecimentos sociais. Suas pesquisas de retomada são ferramentas para investigar os meios urbanos que habita, traçando comportamentos, identidades e existências. Participou da residência artística Capacete e MAM-RJ, em 2020, e da residência Laboratório de Imagens, em parceria com o IMS-RJ e o Observatório de Favelas, em 2022. Desde 2019, atua como produtora audiovisual das Brits, coletivo suburbano de skate feminino e LGBTQIAPN+.
Nancy Betts (Manaus, AM, 1946) é mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e professora de História da Arte na FAAP. Integra o corpo docente dos cursos de pós-graduação de Audiovisual e Mídias Interativas do SENAC-SP. Em 2005, foi professora convidada da Unichapecó-SC. É pesquisadora CNPq em Linguagem da Arte e da Artemídia. Integrou projetos de curadoria como Fidalga ’05, no Paço Municipal de Santo André, SP, em 2005; A subversão dos meios, no Itaú Cultural, em São Paulo, em 2003; Palavra-figura, no Paço das Artes, SP, em 2002; XS/XL (extra small, extra large), no Muma (Museu Metropolitano da Arte), em Curitiba, em 1999/2000; além de curadorias em locais como Espaço Cultural dos Correios, no Rio de Janeiro; Galeria Nara Roesler, em São Paulo; Galeria Marina Potrich, em Goiânia; e Muna (Museu Universitário da Arte), Universidade Federal de Uberlândia, MG.
SERVIÇO | Nova Fotografia 2023 – Bate-papo com fotógrafas e curadoras
Data: 17 e 26.10, às 19h
Local: Espaço Maureen Bisilliat (Expositivo térreo) | MIS (Museu da Imagem e do Som)
Avenida Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo
Ingresso: gratuito
Classificação: livre