Exposições “Isso É Coisa de Preto” e Acervo de Longa Duração revelam aspectos históricos da festa em SP, RJ, BA e PE
Considerada a maior festa popular do país, o Carnaval tem suas raízes fortemente vinculadas ao sincretismo religioso das manifestações afro-brasileiras do período Colonial. Essa tradição negra que acompanha a festividade possui uma série de referências no acervo do Museu Afro Brasil, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, gerida pela Associação Museu Afro Brasil – organização social de cultura.
Na exposição “Isso É Coisa de Preto – 130 Anos da Abolição da Escravidão”, por exemplo, dezenas de fotografias, recortes de jornais e capas de discos do século XX destacam nomes fundamentais para a consolidação do carnaval nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Recife.
Personagens célebres como Henricão (Rei Momo, primeiro e único do carnaval de São Paulo), Cartola, Candeia, Jamelão, Pixinguinha, Paulinho da Viola, Geraldo Filme, Ismael Silva, Mestre Maçal, Heitor dos Prazeres e Pixinguinha, além de imagens dos Afoxés Filhas de Obá (BA) e Filhos de Gandhy (BA) feitas por Pierre Verger, são alguns dos destaques da exposição.
Velha Guarda
Em todo o Brasil o carnaval foi apropriado, transformado e ressignificado pela população negra, índios e mestiços, e em São Paulo não foi diferente. Os cantos e danças dos escravizados das fazendas de café; o samba de bumbo de Pirapora e o batuque na lata de graxa do Largo da Banana são exemplos dessa presença. E é justamente uma homenagem aos baluartes do carnaval de São Paulo um dos mais significativos trabalhos da exposição de Longa Duração do Museu Afro Brasil. Trata-se do conjunto de imagens produzidas pelo fotógrafo paulistano Wagner Celestino para a “Série Velha Guarda do Samba de São Paulo”. Localizado próximo a rampa que conduz os visitantes ao segundo pavimento do museu, o painel com 20 ampliações fotográficas apresenta registros em preto e branco de nomes como Seu Nenê da Vila Matilde, Dona Philomena, Zelão da Rosa, Xangô da Vila Maria, Chiclê, Carlão do Peruche e Toniquinho Batuqueiro.
O Sagrado e o Profano
No período Colonial, os habitantes dos povoados e vilas dedicavam boa parte dos dias do ano à realização de festas religiosas. Os africanos escravizados e seus descendentes, por exemplo, encontraram nessas celebrações festivas um modo de preservar muitas de suas tradições. E foi a partir dessas celebrações religiosas que a maioria dos festejos populares que conhecemos hoje surgiu.
O Núcleo “Sagrado e o Profano”, localizado na exposição de Longa Duração do Museu Afro Brasil dedica-se justamente a homenagear festividades ligadas ao sagrado e celebradas no espaço festivo da rua, especialmente no nordeste brasileiro. É neste setor que se encontram máscaras, bandeiras e vestimentas de Congadas, dos afoxés da Bahia, do Bumba-meu-boi do Maranhão e dos Maracatus de Pernambuco. Entre as peças do núcleo destaque para o Estandarte Nação do Maracatu Elefante, de 1965. O Maracatu Elefante, de Recife, é um dos mais antigos do país, fundado em 15 de novembro de 1800 pelo escravo Manuel Santiago.
Ainda na exposição de longa duração, no Núcleo História e Memória, é possível contemplar, entre outros, fotos de nomes como Vovô do Ilê Aiyê, fundador da Associação Cultural e Bloco Carnavalesco Ilê Aiyê, Clementina de Jesus e fotos do carnaval de rua de São Paula na primeira metade do século XX.