Na Brasilândia, peça discute racismo, violência e trabalho na metrópole
Em curtíssima temporada, a Fábrica de Cultura da Brasilândia apresenta a peça “Cidade de pedras, corpo em ruínas”, dentro da programação do Projeto Espetáculo. A peça estreou no último dia 23 e terá apresentações até domingo
O processo de criação foi iniciado em março e os 17 atores tiveram participação intensa durante todo o período. “Cidade de pedras, corpo em ruínas” partiu de dois grandes temas, amor e cidade, mas a discussão foi ampliada. Segundo a diretora Natacha Dias, os atores-aprendizes, em grande parte adolescentes, sentiram a necessidade de abordar outras questões.
Surgiram, então, discussões sobre racismo, violência contra a mulher e transexuais e também a lembrança de uma tragédia real – um operário que morreu em um acidente, durante a construção do equipamento, em 2012. As questões individuais não foram esquecidas e dramas familiares surgem em áudio e vídeos gravados pelos próprios atores e projetados no palco.
Bruno, Vitória e Vinícius
A aluna Vitória Teixeira, 17 anos, acredita que amadureceu durante o processo. “Hoje, tenho uma visão diferente de tudo o que acontece, consigo fazer uma reflexão sobre o mundo”. O racismo é uma das questões fundamentais para Bruno Araújo, 18 anos, que já foi acusado de roubo em uma loja nos Jardins, e para Vinícius Soares, 16 anos, que critica as abordagens policiais na periferia. Os três, que cursam o ensino médio, pretendem prestar Vestibular para Artes Cênicas.
A gerente da Fábrica de Cultura da Brasilândia, Maria Antonieta Carneiro (Tieta), que trabalha com a comunidade do bairro há mais de 40 anos, acredita que as atividades de cultura oferecidas pela Fábrica têm o poder de transformar o cidadão, pela inclusão que proporciona. “Quando iniciamos as atividades, há quatro anos, as 1.300 vagas dos cursos foram preenchidas na primeira semana”, conta. “E até hoje, quando caminho pela Fábrica e vejo as salas ocupadas com todas as atividades oferecidas, a emoção é forte”. Tieta lembra ainda da parceria feita este ano com a Fundação Casa, quando jovens que cumprem medidas socioeducativas gravaram um CD no estúdio da Fábrica.
As Fábricas de Cultura constituem-se em um programa da Secretaria da Cultura do Estado, com dez unidades implantadas em 2013 em bairros da cidade de São Paulo onde jovens e crianças vivem em situações de vulnerabilidade. No espaço das Fábricas, diversas linguagens artísticas são ensinadas e busca-se, além do processo educativo, a formação de plateia e a convivência para as comunidades do entorno.
Fotos: Joca Duarte
SERVIÇO
Projeto Espetáculo – Fábrica de Cultura da Brasilândia
Peça: Cidade de pedras, corpo em ruínas
Apresentações: 23, 24 e 26/11 (domingo) às 15 horas; 25/11 (sábado), duas sessões, às 15 horas e às 20 horas
Dramaturgia: Nathalia Catarina (em processo colaborativo com os atores)
Direção: Natacha Dias