No aniversário de SP, Museu de Arte Sacra inaugura “Adagio”
O Museu de Arte Sacra de São Paulo inaugura “Adagio”, do artista visual paulistano Allann Seabra, sob curadoria de Bianca Boeckel. Inspirado no andamento musical lento adagio – a que faz referência tanto pelo tempo necessário para que o material utilizado (aço) se corroa e adquira a estética desejada, como pelo ritmo de produção das peças -, o artista apresenta esculturas e site specific em aço corten -, as quais abordam questões de uma memória afetiva, da infância e do tempo.
A música é uma arte muito presente na vida de Allann Seabra desde criança, sendo também sua primeira formação acadêmica, antes das artes visuais. Criado em torno de uma fábrica da família, o artista utilizava aço que seria revendido como sucata para criar suas primeiras esculturas, ressignificando o material. Nesse sentido, a nova exposição temporária da Sala MAS/Metrô Tiradentes exibe uma produção derivada desta memória afetiva, de algo que não teria mais uso. “A estética industrial desta sala expositiva faz a obra voltar às suas origens, retira o artista de uma memória da infância e o insere em um ambiente no qual se sente confortável para voltar a esse tempo e produzir”, comenta a curadora Bianca Boeckel.
Em “Adagio”, Allann Seabra expõe obras antigas – algumas emprestadas de coleções particulares, como os “Losangos” -, esculturas e um site specific inéditos, produzidos especialmente para esta individual, além de uma torre em aço corten que ocupará um dos jardins do MAS/SP. O site specific será feito na sala do metrô, com tramas de aço corten. Nos jardins do MAS serão expostas algumas esculturas, ainda a serem definidas, fazendo uma comunicação dos dois jardins com a sala Tiradentes do metrô. Todas as peças são de aço corten.
“A leveza do resultado final dialoga com a rigidez do aço, unissonante. A obra avança, domina, se faz expressão maciça em alto volume. É música para os olhos: enxergamos sua presença, mas não a escutamos.”
Bianca Boeckel
Curadora da exposição
Sobre o processo criativo, o artista respeita o tempo da execução, que é relativamente lento como no andamento adagio. Em suas palavras: “Não faço croqui, simplesmente pego o material – geralmente uma chapa de aço – e vou moldando, testando tanto limites do corpo (força) como da matéria (resistência)”. Para a curadora, pensamento e execução estão juntos neste processo: “O artista não tem uma ideia e segue um rascunho; ele respeita a matéria prima e o seu tempo. É a vontade dele a favor do tempo que a peça precisa para estar pronta. Assim como no trabalho de um músico, pensamento e ação se passam em conjunto, através de uma inspiração que vem de dentro, sem forma predefinia”.
A expografia da mostra se baseia na musicalidade do artista e propõe destacar o movimento das peças: começam dentro de nichos e de uma vitrine fechada, e ultrapassam esses limites físicos, usando a personalidade do metal em prol da obra em conjunto.