A Pinacoteca de São Paulo apresenta, de 7/7 a 8/10, a exposição “Laura Lima: Alfaiataria”, que ocupa o Octógono, no primeiro andar da Pina Luz. Laura Lima (1971, Governador Valadares) cria um diálogo inovador com a prática do museu ao apresentar uma oficina de alfaiataria em funcionamento, com profissionais, tecidos, aviamentos e todo o maquinário de uma confecção.
Nela, uma equipe de alfaiates e costureiras trabalhará todos os dias ao longo da exposição. Eles irão produzir uma coleção de trajes confeccionados sobre molduras vazias, criando retratos que interpretam, a partir de seus próprios saberes e experiências, as ideias e desenhos da artista. O espaço será ativado pela presença desses profissionais e de suas atividades – modelar, cortar, alinhavar, costurar, passar, finalizar e, ao longo do período expositivo, o público testemunhará o surgimento dessas peças que ficarão armazenadas numa reserva técnica suspensa no octógono, construída especialmente para o projeto. Espera-se que em torno de 30 obras sejam produzidas até o final da mostra.
“Lima recusa-se a chamar seus trabalhos de performances. Para a artista, não se trata de sublinhar os sujeitos ou a subjetividade de suas ações, mas entender os participantes (que ela chama de viventes) também como matéria da obra de arte, ocupando o espaço do mesmo modo que os objetos, o mobiliário e a própria arquitetura.”
Fernanda Pitta
Curadora da exposição
Em Alfaiataria, ao recorrer a um fazer tradicional, especializado e altamente elaborado como o dos alfaiates e costureiras, Lima também propõe um paralelismo com o fazer artístico e uma reflexão sobre o tempo e o valor do trabalho. A obra dialoga com o espaço e a história da Pinacoteca, já que instala uma oficina num edifício que teve originalmente essa função, pois foi criado para ser a sede do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. Também permite uma relação com o próprio ambiente urbano do museu, o bairro do Bom Retiro, com sua tradição de oficinas de costura, lojas de tecidos e confecções, e de seus profissionais de comunidades variadas como a judaica, a coreana e boliviana.
A produção de Lima se debruça sobre a complexidade dos comportamentos individuais e coletivos. Desde o início de sua trajetória, em 1990, a mineira utiliza seres vivos (humanos ou animais) como parte de sua obra. Em suas ações ou esculturas, o objeto artístico é frequentemente ativado por longos períodos ininterruptos. Suas referências vão desde a história da arte à ficção científica, com a utilização de técnicas que variam de intrincados desenhos e colagens, à colaboração com artistas e artesãos que ativam suas obras.
Alfaiataria foi exposta pela primeira vez no Bonnefanten Museum de Maastricht, Holanda, de 2014 a 2015, como parte da individual da artista no museu durante a qual foi agraciada com o prestigiado prêmio Bonnefanten Award for Contemporary Art 2014.
Com curadoria de José Augusto Ribeiro, a Pinacoteca do Estado de São Paulo inaugura no dia 19/5 a exposição coletiva Mínimo, múltiplo, comum. A mostra, que ficará no segundo andar do edifício da Pina Estação, reúne mais de uma centena obras de seis artistas de gerações e círculos culturais diferentes: Amadeo Lorenzato (1900-1995), Chen Kong Fang (1931-2012), Eleonore Koch (1926), Marina Rheingantz (1983), Patricia Leite (1955) e Vânia Mignone (1967).
A exposição apresenta trabalhos caracterizados por figurações simples, planas e sintéticas, às vezes no limite da abstração. Essas imagens reproduzem, no geral, cenas de solidão – pelo isolamento de seres e objetos, ou pelos espaços vazios, sem presença humana. Realizados a partir de 1960, os trabalhos compreendem, juntos, quase sete décadas de produção pictórica no Brasil, desde a época em que ocorrem as primeiras mostras de Koch, Fang e Lorenzato, cujas produções foram confundidas com variações do “primitivismo”, até hoje, quando o circuito de arte contemporânea valoriza e acolhe sem mediações obras de artistas antes considerados “populares” e “ingênuos”.
“Muitas dessas obras continuam a ser tachadas de ‘ingênuas’, ou de ‘populares’, por conta de suas construções espaciais estiradas, paralelas ao plano bidimensional do suporte, sem uso da perspectiva; de suas figuras sumarizadas ao essencial da representação e muitas vezes assimétricas e das composições descentradas e com equilíbrios tensos. Estes aspectos descrevem qualidades fundamentais da pintura moderna, desde o final do século XIX, e estão presentes, de maneiras bastante diversas, em obras relevantes de artistas em atividade nos últimos 20 anos.”
José Augusto Ribeiro
Curador da Pinacoteca do Estado
As obras que compõem a mostra pertencem a mais de 60 coleções públicas e particulares de São Paulo e Belo Horizonte. Dessas, sete estão sob a guarda da Pinacoteca: seis integram o acervo do museu (sendo quatro trabalhos de Lorenzato, uma série de pinturas sobre xilogravuras de Vânia Mignone e a inédita “Gruta”, de Patricia Leite, recém-incorporada à coleção, por meio de doação do Iguatemi São Paulo), além de uma pintura pertence à Coleção Nemirovsky, que desde 2006 está em empréstimo de longa duração para a instituição.
Os artistas que compõem Mínimo, múltiplo, comum estão representados aqui com cerca de 20 trabalhos cada, escolhidos com o objetivo de formar um panorama representativo e abrangente dessas trajetórias. Isso faz da exposição a primeira em uma instituição pública de São Paulo a apresentar um conjunto tão significativo de obras de Amadeo Lorenzato – um artista que, em vida, realizou exposições apenas em Belo Horizonte. Amadeo tinha entre seus admiradores o artista mineiro Amilcar de Castro e hoje está em alta no mercado artístico do Brasil. Na exposição, o público tem também a oportunidade de ver, pela primeira vez, grupos importantes de obras de Chen Kong Fang, produzidas a partir de 1994, e de Eleonore Koch, hoje com 92 anos de idade, produzidas a partir de 2009.
A mostra apresenta, ao mesmo tempo, trabalhos inéditos de artistas brasileiras em atividade e que têm chamado a atenção no circuito internacional, como Patricia Leite, que acabou de expor em Bruxelas, na Bélgica, e Marina Rheingantz, que está atualmente em cartaz com uma exposição individual em Nova York. Além disso, Mínimo, múltiplo, comum antecede a participação de Vânia Mignone na 33ª Bienal de São Paulo, que será inaugurada em setembro.