O Museu Afro Brasil promove no próximo dia 8 de dezembro, às 12h, a abertura da exposição coletiva “Olhares Revelados”. Como sugere o nome da mostra, “Olhares Revelados” pretende desnudar aos olhos do espectador a arte da constante busca pelo sentido da imagem no fazer fotográfico. Algo que, segundo o curador da exposição, Silvio Pinhatti, se perdeu no século 21.
“Nos últimos anos, temos experimentado a cada instante um imenso crescimento da produção de imagens por multidões de celular em punho e redes sociais como o Instagram e o Facebook. Como é possível, num cenário como esse, valorizar a produção fotográfica e ressignificar o ofício do fotógrafo? Se hoje um senso comum afirma que ‘qualquer um’ pode produzir imagens – que vão se perder nas redes sociais num movimento praticamente sem autoria – como cristalizar a arte fotográfica com o cuidado, a atenção e o labor que ela merece? Como estender uma linha do tempo que faça jus a artistas tão fundamentais, que nos ensinaram que a fotografia é uma arte narrativa, memorável, imprescindível? Se tem se tornado tão banal a produção de imagens prolixas, é possível observar nelas uma frouxidão de sentido que sem dúvida não faz parte da fotografia como surgiu e se encorpou ao longo do século XX. Desse modo, é preciso que estejamos atentos aos artistas-fotógrafos que continuam zelando por essa arte.”
Silvio Pinhatti
“Olhares Revelados” reúne 87 fotografias de sete fotógrafos brasileiros: Andrea Fiamenghi, Eidi Feldon, Gil Rennó, Lucila de Avila Castilho, Paulo Behar, Pedro Sampaio e Tuca Reinés. Para além do ofício que une os sete profissionais, os artistas selecionados possuem em comum o afeto e a celebração do fazer fotográfico tal qual o mesmo se popularizou no século 20, buscando por meio da fotografia a beleza, a comunicação e a impressão de sentido à imagem.
SOBRE OS ARTISTAS
Andrea Fiamenghi
Nascida em São Paulo, Andrea Fiamenghi vive em Salvador, na Bahia, desde os quatro anos idade. Sua paixão pela fotografia a fez encontrar-se com a obra de Pierre Verger, grande fotógrafo e antropólogo francês, residente em Salvador. Do encontro com a obra e sob a influência do mestre, começa a retratar o povo nas ruas de Salvador e a desenvolver pesquisas. Na mostra “Olhares Revelados”, Andrea apresenta imagens da Cerimônia Águas de Oxalá e as festas do calendário religioso do Terreiro Iiê Axé Opô Aganju,
Eidi Feldon
Designer e fotógrafa, Eidi Feldon fez orientação de fotografia com Claudia Andujar nos anos 1970, e desde então sempre esteve de máquina em punho. Em “Olhares Revelados”, Feldon mostra registros da série “Thesaurus – O Lugar da Observância”, que reúne fotos que nos falam de um vestígio de tempo passado, mas também de um conjunto de circunstâncias do presente, que antevê os aspectos disruptivos de uma civilização que atravessa o seu momento mais pungente de deterioração ecológica.
Gil Rennó
Há quinze anos vivendo na Serra da Mantiqueira, Gil Rennó vem fotografando a fauna e a flora locais, sua gente, seu comércio e seus hábitos. Na exposição “Olhares Revelados” o artista apresenta fotografias de duas manifestações da cultura popular local cruciais para a população da Serra da Mantiqueira. São elas as comemorações da Festa de Treze de Maio no bairro do Quilombo em São Bento do Sapucaí, e a Via Sacra no município de Gonçalves (MG), em que a população faz uma peregrinação em volta da pedra do Cruzeiro.
Lucila de Avila Castilho
Nascida em São Paulo, em 1957, a artista é especialista em fotografia de viagem. Segundo o fotógrafo André Douek: “Na fotografia de Lucila identificamos os elementos, as estações e as criaturas. Estamos diante das cenas da gênesis”. Na exposição “Olhares Revelados”, Lucila apresenta imagens da Escócia, Chile, Itália e Islândia.
Paulo Behar
Com diversas fotos publicadas pela National Geographic e BBC Brasil, Paulo Behar procura registrar as belezas da natureza e vida selvagem, com um olhar que busque impactar e emocionar o espectador. Na mostra “Olhares Revelados”, o artista mostra fotografias da natureza selvagem encontradas em lugares como Chile, Cananéia (SP), Cubatão (SP), Pantanal do Rio Negro (MS), Poconé (MT), Barão de Melgaço (MT), Jardim (MS), Miranda (MS), Porto Jofre (MT)
Pedro Sampaio
Paulistano de 27 anos, acostumado à vida da metrópole e com formação multidisciplinar, Pedro Sampaio fotografa a resistência cultural dos que vivem à margem da globalização nos centros urbanos. Em suas viagens para Cuba, Irã, Líbano, países desacreditados pela imagem dos noticiários ou comunidades brasileiras isoladas da grande mídia, a fotografia lhe permitiu registrar aquilo que testemunhava
Tuca Reinés
O premiado fotógrafo Tuca Reinés exibe retratos feitos na aldeia de Jerusalém, província de Laikipia, centro do Quênia, África. Com cerca de 300 habitantes, a aldeia congrega três das principais etnias do norte do país: Samburu, Turkana e Borana.
No ano em que a Declaração Universal dos Direitos Humanos completa sete décadas, e a abolição da escravidão no Brasil 130 anos, o Museu Afro Brasil, com a intenção de promover uma reflexão crítica sobre os significados dessas efemérides, promove no próximo dia 01 de dezembro, às 10h, a Roda de Conversa “Sonhar o Mundo, Fazer o Mundo: racismo, violência e experiências de resistência”. Clique aqui para se inscrever!
O propósito do encontro é discutir as condições de vida e acesso aos direitos sociais da população negra no país, bem como suas formas de organização política, resistência e superação do racismo.
Participam da atividade a doutoranda em Direitos Humanos pela Faculdade de Direito da USP e coordenadora da linha Desigualdades e Identidades do InternetLab – Pesquisa em Direito e Tecnologia, Natália Neris; o psicólogo e mestre em Psicologia e Sociedade pela Unesp, Igo Ribeiro; a doutoranda pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e assistente social, Cláudia Adão; além do doutorando em Psicologia Social pela PUC-SP e coordenador do Programa de Extensão e Rede do Museu Afro Brasil, Márcio Farias.
Durante a atividade serão destacadas experiências de superação do racismo materializadas na atuação do movimento negro na Constituinte de 1988 e no papel desempenhado pelo Museu Afro Brasil.
A Roda de Conversa “Sonhar o Mundo, Fazer o Mundo: racismo, violência e experiências de resistência”, faz parte da Campanha #SonharoMundo, organizada pelo Sistema Estadual de Museus da Secretaria da Cultura do Estado, que mobiliza os museus paulistas a se unirem pelos Direitos Humanos.
Sinopses
Claudia Rosalina Adão: São Paulo e a Violência contra a Juventude
A população negra, principalmente a sua juventude, é a maior vítima de homicídios no Brasil, o fenômeno se repete na cidade de São Paulo. Existe uma articulação perversa entre vulnerabilidade à morte, pobreza e raça. Nas periferias da cidade de São Paulo, onde estão localizados os distritos mais vulneráveis socialmente, há uma concentração da população negra e de violência letal. O objetivo de seu trabalho é demonstrar que esta articulação perversa está atrelada ao processo de segregação urbana da cidade.
Claudia é assistente social do Centro Social Marista Ir. Justino, especialista em gestão de projetos sociais, mestra pelo do Programa de Mudança Social e Participação Política da EACH-USP e doutoranda pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Faz parte da rede Quilombação de ativistas antirracistas.
Igo Ribeiro: Necropolítica e Juventude Negra no Brasil
A juventude negra brasileira há muito vem sendo alvo de intervenções do Estado em diferentes momentos históricos e contextos sociais. O desenvolvimento de práticas e discursos no campo político-jurídico nos convoca a refletir sobre os efeitos concretos e simbólicos na vida de jovens negros. Tratam-se de velhas práticas de controle e regulação dos corpos ou de novas tecnologias alicercadas em uma necropolítica?
Igo Ribeiro é psicólogo e Mestre em Psicologia e Sociedade pela UNESP. Co-fundador do Projeto Ressignificando Vivências Raciais – REVIRA/UnB. Integrante da Articulação Nacional de Psicólogas(os) Negras(os) e Pequisadoras(es), ANPSINEP. Desenvolve pesquisas nas áreas de Sistema de Justiça Juvenil, Juventude Negra e Relações étnico-raciais.
Natália Neres: Movimento Negro na Constituinte
Apresentação dos resultados da obra “A voz e a palavra do Movimento Negro na Constituinte de 1988” que aborda a tematização do racismo e das questões raciais no momento que inaugura as possibilidades de interlocução entre sociedade civil e instituições formais do Estado Brasileiro: a Assembleia Nacional Constituinte (ANC) de 1987-1988. Através do estudo da atuação do movimento social na ANC e do balanço das inclusões e exclusões de dispositivos na Carta Constitucional são apontados os desafios do tratamento da temática pelo Estado brasileiro, tarefa relevante passados exatos 30 anos da promulgação da Constituição brasileira, 40 anos de fundação do Movimento Negro Unificado e 130 da abolição da escravatura no Brasil.
Natália é doutoranda em Direitos Humanos na USP, Mestra em Direito pela FGV, Bacharela em Gestão de Políticas Públicas pela USP. Pesquisadora do Núcleo de Direito e Democracia do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (NDD/CEBRAP) e do Grupo de Estudos e Pesquisas das Políticas Públicas para a Inclusão Social da USP (GEPPIS/USP). Atualmente é coordenadora da área Desigualdades e Identidades do InternetLab – Pesquisa em Direito e Tecnologia. É também colaboradora da página Preta e Acadêmica.
No domingo, 11 de novembro, o MIS realiza a Maratona Infantil – Especial Consciência Negra. Durante todo o dia, o Museu traz atividades que remontam e exaltam as raízes africanas do Brasil. Com entrada gratuita, o evento será realizado entre as 10h e 17h.
Para conhecer mais a história do continente africano, diversas contações e espetáculos integram a programação durante todo o dia. Em África – O pisar desse chão, a Cia Hespérides reúne contos de criação do mundo e outros temas, sob a ótica de nossos ancestrais africanos. Já em Lado de Lá – Uma viagem pelas lendas africanas, a Cia Luarnoar apresenta um espetáculo divertido e dinâmico, com a magia dos cenários sonoros e canções originais, para contar muitas histórias lendárias do continente.
Por fim, o espetáculo Karingana Ua Karingana – Histórias de Áfricas, do Grupo Baquetá, tem como objetivo aproximar as relações étnicorracias para crianças – embora seja indicado para todas as idades. Temas como escravização da população negra, diáspora, auto estima, ancestralidade, circularidade, meio ambiente, espiritualidade, linguagem e diversidade são abordados através de técnicas de contação de histórias, danças de matrizes africanas, cantos e brincadeiras. A atração visa, de forma lúdica, desmistificar a idealização de “África” como um lugar afastado, antigo, arcaico e pequeno e apresentar a potência de um vasto continente, berço da civilização, mãe de grandes saberes científicos e tecnológicos.
Oficinas
Crianças e toda a família irão se divertir – e aprender – com inúmeras oficinas que também versam sobre a cultura africana. Um exemplo é a Confecção de bonecas Abayomi, em que o Coletivo Cafuzas partilha algumas histórias vinculadas à boneca (sendo elas relacionadas à diáspora africana) e propõem algumas possibilidades para sua confecção – feitas com tecido preto e retalhos diversos, a base de nós e amarrações e sem demarcação de olho, nariz ou boca. Outra opção é a Oficina de máscaras africanas, na qual a equipe da Matiz Filmes irá conduzir os participantes a produzirem suas próprias máscaras – cuja principal característica é a essência do espírito da pessoa, e não os seus traços físicos reais; por isso, ela faz uso de distorções e abstrações.
Um dos grandes legados da cultura africana no Brasil é a capoeira. Durante a Maratona Infantil, acontecem duas oficinas com o Projeto Sapé Capoeira: uma voltada a bebês de zero a três anos (em que são motivados a manusear os instrumentos com a participação dos seus pais, a partir da sensibilização musical de percussão típica da capoeira, com pandeiro, caxixi, agogô, atabaque e o berimbau); e outra focada em crianças de quatro a 11 anos (que buscará proporcionar a vivência das possibilidades motoras baseadas nos elementos da capoeira, como saltos, rolamentos, ritmo e expressão corporal através do tema “bichos”).
+ brincadeiras
Além disso, haverá o Espaço Kids Competition – uma área de lazer e brincadeiras, disponível das 10h00 às 16h00, para incentivar a prática de atividades ao ar livre. Localizado na área externa do Museu, será recheado de atividades e brincadeiras de rua que vão agradar pais e filhos, como amarelinha, pula corda, mãe da rua e muitas outras.
O Museu Afro Brasil inaugura no próximo dia 23/6, às 11h, a exposição “Sertão Expandido”, do artista plástico goiano Kboco. Com curadoria de Maria Hirszman, a mostra reúne cerca de dez trabalhos inéditos entre pinturas, desenhos, assemblages e intervenções em site specific.
“Não se trata de uma mera filiação à instalação como forma expressiva, mas de uma intencionalidade clara de fusão entre as questões pictóricas, com a necessidade de se expandir para além do espaço bidimensional, incorporando elementos da paisagem e usando a arquitetura como estopim e suporte para ações transformadoras do espaço social”, afirma Hirszman.
“Essas obras são feitas com madeiras que eu recolho ao acaso e que cruzam meu caminho numa espécie de arqueologia do cotidiano, então eu as ajeito no meu estúdio já com uma certa diagramação, mas a montagem final da obra acontece no próprio museu.”
Kboco
“Sertão Expandido” encerra um hiato de cinco anos desde a última exposição do artista, e apresenta o resultado da transição que o levou de volta ao seu estado de origem, Goiás, onde nasceu em 1978, após morar em cidades como Porto Alegre, Olinda e São Paulo.
A decisão do artista em instalar seu estúdio no município de Cavalcante, no coração da Chapada dos Veadeiros, nas palavras do próprio Kboco, “carrega em si a busca pela arte enquanto produção de conhecimento e não apenas como produção mercadológica. O aprofundamento que essa mudança gera diz respeito ao sertão enquanto possibilidade de aperfeiçoamento e expansão da linguagem”.
“Sertão Expandido” é resultado do projeto de fomento à arte pelo Fundo de Cultura de Goiás, e contará com catálogo e vídeo do processo criativo do artista.
Emanoel Araujo, diretor-curador do Museu Afro Brasil, comenta: “Kboco é o barroco do grafismo. Tão barroco que às suas figuras e ao seu emaranhado de grafismos ele ainda acrescenta pequenas formas de folha de ouro, e tudo isso reluzindo de um requintado lavis e de uma requintada transparência. Por certo, Kboco se inspira nas volutas de grades de ferro ou na superposição de um laboratório de tubos de cristal imaginário”.
No dia 11/6, segunda-feira, às 19h30, o Estação Cultura, espaço aberto ao público localizado no prédio da Secretaria da Cultura do Estado e da Sala São Paulo, recebe o evento gratuito “Viva a Diversidade”, promovido pelas entidades Encontro das Águas e Águas de São Paulo.
Com o propósito de incentivar a cultura de paz e a liberdade religiosa, o evento homenageia o Dia das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé, comemorado em 30/9.
Nos 130 anos da abolição da escravidão (1888), o Museu Afro Brasil ressalta a competência, o talento e a resistência negra nos campos da arquitetura, artes plásticas, escultura, ourivesaria, literatura, música, dança, teatro, idioma e costumes, através da nova exposição, “Isso É Coisa de Preto – 130 Anos da Abolição da Escravidão”, com curadoria de Emanoel Araujo. A mostra destaca a produção dos séculos XIX e XX, por meio de pinturas, fotografias, litografias, esculturas e desenhos que evidenciam e valorizam a fundamental contribuição africana e afro-brasileira na construção do país.
“’Isso é Coisa de Preto’ é um jargão, um termo preconceituoso e racista nacional, muito usado para descriminar a condição de ser afro-brasileiro. Ressignificar tal terminologia, com o objetivo de ressaltar que ‘coisa de preto’ é ter excelência nas artes, ciências, esportes, medicina e em outros campos relevantes da sociedade, é um dos objetivos da exposição.”
Emanoel Araujo
Mulheres e homens negros que marcaram época na recente história brasileira em suas respectivas áreas, tais como o médico Juliano Moreira, o poeta Luiz Gama, o escritor Manuel Querino, a cantora Elza Soares, o editor Francisco Paula Brito, os músicos Dorival Caymmi, João do Vale, Cartola, Milton Nascimento, Luiz Melodia, Jamelão, Pixinguinha, Paulinho da Viola e Itamar Assumpção, a bailarina Mercedes Baptista, o abolicionista José do Patrocínio, a atriz Ruth de Souza, o jogador Pelé, Madame Satã, entre outros, estão entre as personalidades negras representadas na mostra.
Nomes como o dos irmãos Arthur Timótheo e João Timótheo, Heitor dos Prazeres, Solano Trindade, Yedamaria, Mestre Valentim, Nelson Sargento, Eustáquio Neves, Walter Firmo, Rubem Valentim, Estevão Silva, José Teóphilo de Jesus, Benedito José Tobias, Mureen Basiliat, Rafael Pinto Bandeira, Washington Silveira, Otávio Araujo, Waldomiro de Deus, Antonio Firmino Monteiro, Pierre Verger, Carybé, João Alves, Maria Lídia Magliani, Caetano Dias, Belmiro de Almeida, Mestre Benon e João da Baiana são alguns dos artistas com trabalhos na expostos na mostra.
“Se por um lado a data marca os 130 anos da extinção do trabalho escravo no Brasil, por outro ainda somamos 400 anos de preconceitos, racismo e indiferença das elites oligárquicas desse país com relação aos negros e negras. São 400 anos de ausência de políticas públicas capazes, ao menos, de sanar esses absurdos que não só envolvem a questão de cor e de raça, mas também a pobreza que atinge as comunidades onde a maioria negra é constantemente objeto do maltrato, do isolamento e da violência noticiada todos os dias pela imprensa, como se normal fosse o mal que atinge em pleno século XXI essa camada da população excluída da educação, da saúde, da moradia e dos direitos e privilégios das outras classes sociais”, afirma o curador sobre os 130 anos da abolição da escravatura no Brasil.
O grupo Os Escolhidos, criado em 2014, no Brasil, e formado por imigrantes e refugiados da República Democrática do Congo, se apresentará durante abertura da exposição “Isso É Coisa de Preto – 130 Anos da Abolição da Escravidão”, que acontece no sábado, dia 12/5, às 11h. Na ocasião, o grupo entoará diferentes gêneros musicais como rumba congolesa, acapela, zouk, world music, além de estilos próprios da região do Congo cantados em diferentes idiomas como lingala, kikongo e swahili.
Paulistanos e turistas têm a oportunidade de mergulhar na história, na cultura e na natureza do Brasil por meio de uma combinação da nova geração de artistas africanos e o olhar europeu na fotografia contemporânea. São as cinco novas exposições abertas no Museu Afro Brasil, da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, que se estendem até o dia 11 de junho, no Parque Ibirapuera.
Um Frans, a natureza – Exposição em memória de Krajcberg: Esculturas, relevos e fotografias; Um Deoscóredes – 100 anos do Alapini Deoscóredes Maximiliano dos Santos: Arte e Religiosidade; Os Africanos – O olhar europeu da fotografia contemporânea; África Contemporânea e África e a presença dos espíritos.
Entre os destaques das exposições, a íntima relação com a natureza nas obras de dois artistas já falecidos, o pintor, escultor, gravurista e fotógrafo Frans Krajcberg (1921-2017) e Mestre Didi (1917-2013). A curadoria é de Emanoel Araujo, ex-diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo.
UM FRANS
Uma das atrações pode ser combinada com o passeio no Parque Ibirapuera, onde se curte a natureza com estilo. Trata-se da mostra individual Um Frans, que reúne esculturas, relevos e fotografias de Frans Krjacberg, imortalizado pela dedicação à defesa da natureza brasileira. As obras revelam a revolta do artista contra a destruição do planeta. Vale prestar atenção no modo criativo com que utilizava troncos de árvores, folhas e cipós como matéria-prima e fonte de inspiração para suas criações, que o próprio artista costumava chamar de “um grito da natureza por socorro”.
“Frans foi um eterno encantado e um defensor da natureza que trazia dentro de sua alma peregrina as matas e florestas do Brasil”, afirma Emanoel Araújo. “Em sua longa vida artística, Frans esteve intrinsicamente ligado as terras do país, nos convidando a fazer mais forte o seu eco irradiador em defesa das nossas matas, das florestas que ainda nos sobram, como a esperança e a beleza que emanam da sua obra”, completa o curador.
UM DEOSCÓREDES
Mestre Didi, que em dezembro do ano passado completaria 100 anos de vida, é homenageado na exposição Um Deoscóredes – 100 anos do Alapini Deoscóredes Maximiliano dos Santos: Arte e Religiosidade. Falecido em 2013, Alapini do Ilê Asipa é filho de Mãe Senhora (1890-1967) – iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá. A mostra celebra a obra de fôlego inesgotável e as tradicionais e potentes esculturas do artista, produzidas com materiais naturais como búzios, sementes, couro, nervuras e folhas de palmeira.
“Repleta de elementos da cultura afro-brasileira, a produção artística de Mestre Didi é como a união da antiga sabedoria, a expressão viva da continuidade e da permanência histórica da criação de uma nova estética que une o presente ao passado, o antigo ao contemporâneo, a abstração à figuração, formas compostas ora como totens, ora como entrelaçadas curvas. Suas esculturas, em sua interioridade, são uma relação entre o homem e o sacerdote que detém o espírito íntimo das coisas e de como elas se entrelaçam entre a sabedoria do sagrado e do profano”, define Emanoel Araujo.
Dentro da exposição, é exibido pela primeira vez em São Paulo o documentário Alapini: A Herança Ancestral do Mestre Didi Asipá, de Silvana Moura, Emilio Le Roux e Hans Herold.
OS AFRICANOS
Essa exposição evidencia os muitos fotógrafos que fizeram extraordinários registros dos povos e das manifestações culturais África afora. Os Africanos – O olhar europeu da fotografia contemporânea reúne trabalhos de quatro fotógrafos do chamado velho continente que conseguiram contribuir, com profundo requinte estético, para uma melhor compreensão artística da África atual. São eles: Hans Silvester (Alemanha), Isabel Muñoz (Espanha), Alfred Weidinger (Áustria) e Manuel Correia (Portugal).
ÁFRICA CONTEMPORÂNEA
Um raio-x da atual realidade africana por meio da arte é o que se propõe a fazer a exposição África Contemporânea, que apresenta trabalhos de artistas de países como Moçambique, Benin, Senegal, Angola e Gana. Eles são Dominique Zinkpè, Aston, Soly Cissé, Yonamine, Gérard Quenun, Owusu-Ankomah, Oswald, Celestino Mudaulane, Edwige Aplogan, Francisco Vidal e Cyprien Tokoudagba, criadores conhecidos por exporem as próprias feridas e acumulações por meio de pinturas, esculturas, instalações, desenhos e colagens.
“A arte contemporânea tem grande comprometimento com seu tempo, fala através de metáforas, é menos contemplativa, no sentido clássico da expressão. A arte fala não só do seu tempo, mas de experiências culturais e políticas, e o artista africano, submetido a grandes impulsos, como diferenças econômicas e sociais, extrai daí sua invenção plástica”, frisa o curador.
ÁFRICA E A PRESENÇA DOS ESPÍRITOS
Já a mostra África e a Presença dos Espíritos reúne esculturas, máscaras, asens e moedas produzidas em cobre, madeira, tecido, miçangas e fibra vegetal dos tradicionais povos africanos Guro, Fon, Senufo, Iorubá, entre outras etnias. “A arte tradicional africana foi criada por artistas anônimos, dentro dos dogmas que a situa entre a grande criação: o homem, a natureza e os deuses em comunhão espiritual desses diferentes povos”, conclui Emanoel.
No dia 5/5, a partir das 10h, a SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco promove debates e apresentações artísticas com a participação de artistas e estudiosos negros, cujos trabalhos e militância abordam os espaços que ocupam na sociedade. Entre os convidados então a rapper Luana Hansen, o coreógrafo Ismael Ivo (diretor artístico do Balé da Cidade de São Paulo), a escritora Stephanie Ribeiro (colunista dos sites Blogueiras Negras e Huffpost Brasil e das revistas Capitolina e Marie Claire) e o diretor e ator Eugênio Lima, do Núcleo Bartolomeu de Depoimento.
O evento gratuito, chamado Território Cultural Livre, acontece na sede Brás da SP Escola de Teatro e é organizado pela própria escola em parceria com o Núcleo Negro, coletivo de aprendizes da Instituição. O tema desta edição está relacionado às discussões propostas em sala de aula, levantando questões sobre a negritude em diferentes esferas.
A Cia. Carne Agonizante também marca presença nesta edição do Território Cultural Livre, apresentando o espetáculo “Não Tive Tempo para Ter Medo”, inspirado nas obras política e poética de Carlos Marighella (1911-1969), guerrilheiro e escritor que chegou a ser considerado “o inimigo número um” da ditadura militar brasileira.
“Com os Territórios Culturais, a SP Escola de Teatro abre espaço para que artistas compartilhem suas reflexões e seus trabalhos com nossos estudantes e com a cidade. A ideia surge a partir do conceito de espaço solidário do geógrafo Milton Santos, que defendia que um espaço de formação só faz sentido quando se constitui como espaço solidário, de troca de conhecimentos.”
Joaquim Gama
Coordenador pedagógico da SP Escola de Teatro
Para compor esta edição de Território Cultural Livre, a SP Escola de Teatro contou com a participação dos aprendizes do coletivo Núcleo Negro, que articulou a vinda dos convidados da programação. “A principal ideia foi trazer estudiosos que tenham visibilidade nas áreas em que atuam. São pessoas que conseguem desenhar, a partir da sua própria trajetória, uma outra perspectiva possível sobre o que é ser negro hoje em dia”, explica a estudante Nina Oliveira, aprendiz do curso regular de Sonoplastia e integrante do Núcleo. “Temos na programação desde colegas do teatro e da música a uma economista e uma cientista política: todos atuando em espaços que foram alcançados com seus trabalhos e militância, enfrentando questões como racismo e machismo.”
PROGRAMAÇão
O evento tem início às 10h, com uma apresentação do grupo Odara Negrada, que já esteve na Escola anteriormente. O show do coletivo traz canções afro-brasileiras em português e iorubá, executadas ao som das batidas da alfaia e do batá. Às 11h00, a Cia. Carne Agonizante apresenta o espetáculo “Não Tive Tempo para Ter Medo”, inspirado na obra política e poética de Carlos Marighella (1911-1969), guerrilheiro e escritor que chegou a ser considerado o inimigo número um da ditadura militar brasileira.
O primeiro encontro do ciclo de conversas acontece ao meio-dia, com o tema “O Povo Negro é Cultura de Resistência”. Participam do debate: a rapper Luana Hansen, a psicóloga Priscila Santos (do Núcleo Negro de Estudos Africanos e Afro-Brasileiros da UFABC), o ator e DJ Eugênio Lima (do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos e Frene 3 de Fevereiro), o diretor e dramaturgo Zé Fernando (do grupo Teatro dos Narradores e Cia. Os Crespos) e Ismael Ivo, coreógrafo e diretor artístico do Balé da Cidade de São Paulo.
Em seguida, às 13h40, o performer, músico, compositor e pesquisador da cultura afro diaspórica Will Oliveira apresenta a performance “Brasil Negreiro” no pátio da SP Escola de Teatro.
A primeira sessão da mostra Perspectivas do Audiovisual Negro acontece às 14h30 e contará com a participação da atriz Shirlena Marabilis e da roteirista Pricilla Costa (curta: “A Alma do Cinema Não Tem Cor”), do cineasta Renato Cândido (curta: “Jennifer”) e do roteirista e diretor Valter Rege (curta: “Preto no Branco”). Depois do bate-papo com os convidados, os curtas serão exibidos novamente.
O segundo encontro do ciclo de conversas deste Território Cultural tem como tema “Reconstruindo o Imaginário Social da Mulher Negra” e discute a reconstrução do pensamento sobre a mulher negra, que sai de um lugar de submissão no imaginário social para ser vista em espaços de construção de saberes. Participam do debate: a escritora e ativista Stephanie Ribeiro, Juliete Vitorino (membro da Rede de Proteção e Resistência contra o Genocídio), Alessandra Almeida (pesquisadora em políticas públicas sobre gênero, raça e classe e membro da Marcha das Mulheres Negras de SP) e Rafaela Carvalho, economista e militante do Movimento de Mulheres Olga Benário.
As atividades do dia chegam ao fim com a apresentação musical Vozes Urbanas, às 15h50, que reúne jovens artistas apresentando seu projeto autoral.
A Secretaria da Cultura do Estado recebeu a visita de chefes de povos tradicionais do Benim (antigo Daomé), país da África Ocidental. Os chefes vieram a São Paulo como convidados especiais do lançamento da 1ª Bienal Afro-Brasileira do Livro (BienAfro), no espaço Estação Cultura, onde foram homenageados com cantos e danças africanas:
O secretário de Estado da Cultura saudou os chefes africanos e ressaltou a importância da cerimônia, no momento em que se combate a intolerância religiosa no Brasil, especialmente em relação a religiões de matriz africana.
Os chefes também assistiram à inauguração da exposição “Elifas Andreato – A Arte Negra na Cultura Brasileira”. A mostra traz doze obras do artista e ressalta o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, comemorado em 21 de março, e os 130 anos da abolição da escravatura brasileira.
Ainda em São Paulo, os chefes visitaram e foram homenageados no Museu Afro Brasil.
Chefes de povos tradicionais do Benim em visita ao Museu Afro Brasil
Chefes de povos tradicionais do Benim em visita ao Museu Afro Brasil
O Estação Cultura inaugurou no dia 20/3 a exposição “Elifas Andreato – A Arte Negra na Cultura Brasileira”. A mostra traz doze obras do artista e reforça a importância do Dia Internacional Contra a Discriminação Racial (21/3). Ela fica em cartaz até o dia 29/3 e tem entrada gratuita.
A exposição, com curadoria do próprio artista e de seu filho, Bento Andreato, traz obras que representam o papel do negro na sociedade por meio da arte e da cultura. Além de “Menino e Bandeira”, uma de suas ilustrações mais icônicas, o público poderá conferir a visão de Andreato ao retratar personalidades como Adoniran Barbosa, Clementina de Jesus, Cartola, Martinho da Vila e Paulinho da Viola.
Com mais de 50 anos de carreira, Elifas Andreato se destacou como criador de capas de discos para os mais importantes nomes da MPB, produzindo em torno de 400 trabalhos ao longo de sua trajetória. Também participou da equipe de criação de inúmeras revistas, fascículos e coleções, além de elaborar programas televisivos dedicados ao resgate da memória do Brasil. Em 2011, pelo conjunto da obra, recebeu o Prêmio Especial Vladimir Herzog, concedido a pessoas que se destacam na defesa de valores éticos e democráticos e na luta pelos direitos humanos.
A Estação Cultura, espaço da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, vai sediar o lançamento da Bienal Afro-Brasileira do Livro (BienAfro), no próximo dia 20/3. O evento, voltado à criação literária, será realizado em dezembro e terá o abolicionista Luiz Gama como homenageado da primeira edição. O lançamento contará com a presença de dois chefes de povos tradicionais do Benin, país da África ocidental (antigo Daomé), além do Secretário de Cultura do Estado, José Luiz Penna. O evento terá também apresentações do Quarteto de Saxofones da EMESP (Escola de Música do Estado de São Paulo), do cantor Dinho Nascimento e dogrupo de dança Afro Base Treme Terra.
Idealizada e produzida pelo Grupo Cultural Refavela, dirigido pelo produtor Eufrásio Gato Félix (ex-grupo Novos Baianos) e pela professora Cintia Gabriel, a BienAfro tem apoio do Governo do Estado de São Paulo, da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo e da Universidade Estadual Paulista (Unesp). O objetivo da BienAfro é celebrar a produção literária tanto de afrodescendentes nascidos no Brasil e nas Américas quanto de escritores e escritoras do continente africano, além de fomentar novos talentos.
De acordo com seus organizadores, um dos principais intuitos da BienAfro será contemplar as heranças culturais afro-brasileiras e chamar a atenção para questões atuais, além de defender e preservar suas expressões literárias e diferentes linguagens artísticas. Segundo o secretário da Cultura do Estado de São Paulo, a BienAfro é uma iniciativa importante porque “a diversidade é a verdadeira riqueza, o diferencial possível de nosso país. O mundo vai crescer, na observação de suas diferenças”.
O homenageado Luiz Gama (1830-1882) foi um dos líderes abolicionistas do Brasil. Nascido na Bahia, filho de um fidalgo português e de uma negra liberta, Gama tem uma biografia rara: depois de ter sido vendido ilegalmente pelo pai como escravo, morou em diversas cidades até chegar a São Paulo, já com 18 anos e alfabetizado. Na capital paulista, impedido de matricular-se como aluno de Direito do Largo São Francisco, frequentou o curso como ouvinte e, mesmo sem concluí-lo, atuou na defesa jurídica de cerca de 500 escravos. O fato fez com que, em 2015, Luiz Gama recebesse da Ordem dos Advogados do Brasil o título póstumo de advogado. Além disso, atuou como jornalista – fundou com Ruy Barbosa o jornal Radical Paulistano – e escreveu poemas.