O Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo. De acordo com o ranking da ONG europeia Transgender Europe, entre 2008 e 2016 foram assassinadas no Brasil 868 pessoas trans, número três vezes maior que o do México, que ocupa o segundo lugar da lista. Esses são apenas os números oficiais, sem contar as mortes que não são contabilizadas como casos de transfobia.
Para ampliar os olhares e percepções sobre mulheres trans e travestis, a Oficina Cultural Alfredo Volpi e o Coletivo Corpo Aberto realizam diversas atividades para mostrar além dos estereótipos alimentados pelo senso comum. As atividades de Geração de mulheres: mulheres trans e travestis acontecem dias 7 e 9/6 e são gratuitas.
“A discussão desse tema precisa ganhar espaço em diversos equipamentos públicos, eventos como esse garantem que essas pessoas sejam ouvidas e respeitadas. Acreditamos que a cultura pode contribuir com este movimento de mudança”, conta Danielle Rocha, integrante do Coletivo Corpo Aberto.
E se Jesus vivesse nos tempos de hoje e fosse travesti? O evangelho segundo Jesus, rainha do céu é um monólogo com a atriz Renata Carvalho que traz Jesus ao tempo presente, na pele de uma travesti. “O Brasil é o país onde se mata mais travestis no mundo, e o segundo lugar mata três vezes menos. Precisamos falar sobre isso”, afirmou Renata Carvalho, atriz e protagonista do espetáculo, em entrevista ao Jornal do Comércio, em 2017. Histórias bíblicas conhecidas são recontadas em uma perspectiva contemporânea, propondo uma reflexão sobre a opressão e intolerância sofridas por transgêneros e minorias sociais. “A ideia é resgatar a essencia da mensagem de Jesus, que é uma afirmação da vida, amor, tolerância, solidariedade”, complementa Natalia Mallo, diretora da peça, em entrevista ao site Mídia NINJA, em 2017. A peça será apresentada na quinta-feira (7/6) às 20h.
A atriz Glamour Garcia apresenta em Auto-performance: teatro de si mesmo seu processo artístico, totalmente interligado com o lugar que ocupa no mundo e sua história. Na atividade que acontece sábado (9/6) às 17h30, os participantes aprendem a performar a partir de sua vivência e realidade.
A professora e escritora Amara Moira, em conjunto com a socioeducadora Brunna Valin, fala sobre a falta de pessoas trans nas escolas e universidades brasileiras, bem como a importância de ocupar esses espaços para transformar o imaginário popular sobre a população trans. “A gente ainda conta nos dedos quantas pessoas trans com doutorado existem no Brasil, e é preciso que estejamos mais dentro da lógica universitária, produzindo conhecimentos, não mais apenas como cobaias ou objetos de estudo”, declarou Moira em sua defesa de doutorado na Unicamp. A roda de conversa E se a professora fosse travesti? ocorre sábado (9/6) às 15h.
Encerrando a programação do sábado, às 19h30 a modelo e performer Mc Dellacroix realiza um pocket show na Oficina. A artista vem rimando no rap para incomodar, questionar e expor sua realidade marginalizada a partir da música.
De maio a junho, quem for na Oficina Cultural Alfredo Volpi será mais do que um visitante, mas um modelo vivo para uma obra que será pintada em tempo real. Essa é a proposta da performance Insólito, do ator, educador e artista visual Fabio Lopes.
Na performance, o público é convidado a entrar em um espaço performático ficcional onde estão dispostos objetos que dialogam com a temática do dia – banheiro, festa na piscina, conversas na cozinha, festas de aniversário -, interagir com esses elementos e depois posar como modelo vivo para um retrato que será pintado na hora.
“Insólito é uma pesquisa de observação do cotidiano, e surgiu como um fazer artístico dos acasos, dos acidentes e das banalidades.”
Fabio Lopes
Artista visual
Fabio Lopes é artista visual, ator e educador. Pesquisa os desdobramentos do desenho como dispositivo relacional e disparador criativo. Integrou o núcleo educativo da 30ª Bienal de São Paulo, e de grandes exposições na rede Sesc SP. Foi facilitador artístico do Método Abramóvic durante a exposição Terra Comunal – Marina Abramóvic + MAI, no Sesc Pompeia. Atualmente atua como artista criador e diretor no Coletivo Bixa Pare.
A performance é gratuita, aberta ao público e acontece nos dias 2, 10, 19 e 24 de maio, e 8,16, 22 e 27 de junho. Paralelamente à ação performática, acontece uma exposição na Oficina Cultural com os retratos pintados durante os encontros.
A Oficina Cultural Alfredo Volpi recebe de abril a junho a intervenção artística Ocupação Descaracterizar-se. De autoria da artista Beatriz Cruz, a ideia é expor as impressões que captou usando, durante um ano, apenas roupas de outras pessoas.
“Estamos cada vez mais centrados na autoimagem e precisamos seguir determinados padrões para sermos aceitos na sociedade. Experimentar o processo de trocar de roupa, como se fosse uma identidade, é se ver sob outro aspecto e questionar gênero e construção social”, explica Beatriz Cruz.
A Ocupação vai ser dividida em quatro momentos, que serão experienciados sempre às terças e quartas-feiras. São eles: desmaterializar, destacar, desenhar e desmontar. A primeira parte do projeto vai de 10 a 18 de abril, quando será a montagem e disposição dos materiais de registro que Beatriz acumulou durante 365 dias. O segundo bloco, que vai de 24 de abril a 9 de maio, tem o intuito de conectar o público com esses materiais – textos, fotos, áudios, roupas –, para ajudar a artista na escolha dos itens que prevalecerão na última etapa do projeto. “Desenhar”, que vai de 15 a 30 de maio, será a fase que Beatriz irá avaliar tudo aquilo que foi selecionado pelos participantes e esboçar a exposição. No último período da Ocupação, de 12 a 27 de junho, a exposição finalmente será montada, com as impressões definitivas e materiais permanentes que o público e a artista escolheram.
A proposta da Ocupação surgiu a partir da experiência do projeto Descaracterizar-se para Desandar, que aconteceu em 2016. Beatriz vestiu as roupas de cada pessoa que participou da performance durante sete dias – não usando nada seu – até completarem 365 dias. Durante o projeto ela recolheu diariamente seus materiais, e também dos participantes, e registrou tudo o que conseguiu no perfil do instagram da performance. “Minha ideia inicial foi investigar a construção de gênero e entender o que significam as roupas e a aparência de cada um. É um trabalho que fala muito sobre construção e desconstrução da identidade e de alteridade. Quando você é uma mulher usando roupas masculinas, como as pessoas te olham? Percebi que ter que seguir uma performatividade que não é a sua é penoso demais”, conta a artista.