Nova mostra da Pina investiga importância da representação do artista
A Pinacoteca de São Paulo apresenta, a partir de 8 de dezembro, a exposição Trabalho de artista: imagem e autoimagem (1826-1929), que ocupa quatro salas do 1º andar da Pina Luz. Com concepção curatorial de Fernanda Pitta, da Pinacoteca de São Paulo, e co-curadoria de Ana Cavalcanti (UFRJ) e Laura Abreu (MNBA), a exposição apresenta um conjunto de cerca de 120 obras – pinturas, esculturas, gravuras e desenhos. São 36 autores, mulheres e homens, que representaram seu trabalho e suas figuras de artista, entre o século 19 e início do século 20, período em que se constitui o sistema artístico moderno no Brasil.
A exposição, patrocinada pelo Grupo Segurador Banco do Brasil e Mapfre, foi organizada em torno de quatro eixos: Criação e ofício, O ateliê como motivo, A persona do artista (retratos e autorretratos) e O artista e a modelo. O conjunto traz obras que, mais do que o simples exercício da representação de retratos e autorretratos ou de cenas pitorescas de ateliê, representam o esforço de gerações de artistas para apresentar ao público sua imagem e seu trabalho, sua persona e seu universo de criação, legitimando sua presença na cultura brasileira. Obras como Longe do lar (1884), de Benedito Calixto e O importuno (1898), de Almeida Júnior, ambas pertencentes à coleção da Pinacoteca, são testemunho da autoconsciência dos artistas em construir uma imagem pública de si e de seu ofício.
Integram também obras provenientes de 25 coleções privadas e públicas, incluindo o Museu D. João VI (Rio de Janeiro), Museu de Arte de Belém e o Museu de Arte de São Paulo. Além delas, a mostra apresenta ainda fotografias de ateliês, revistas ilustradas com reportagens sobre a vida de pintores e escultores brasileiros, álbuns de artistas, e os primeiros livros dedicados à história da arte e dos artistas no Brasil, como Belas Artes: estudos e apreciações, de Felix Ferreira (1885), A Arte Brasileira: pintura e escultura, (1888) de Gonzaga Duque, e a primeira edição da biografia de Antonio Parreiras, História de um pintor contadas por ele mesmo, (1881-1926), de 1926.
O conjunto propõe demonstrar que a estratégia, usada pelos artistas da época, de construir uma imagem de si mesmos e de seu trabalho significava elevar seu próprio status na sociedade brasileira, tradicionalmente marcada pela desvalorização de todos os ofícios ligados ao artesanato e ao esforço manual. Evidencia também as exigências contraditórias de uma formação artística oferecida pelo sistema acadêmico, dirigida para a pintura de história ou para o monumento público, que também requisitava ao artista que se afirmasse como profissional “em exposição”, que deveria construir sua imagem e reputação, para concorrer num mercado pouco a pouco em expansão.
Artistas participantes
Abgail de Andrade, Amadeu Zani, Antonio Parreiras, Arthur Timótheo da Costa , Beatriz Pompeu de Camargo, Benedito Calixto, Benjamin Parlagreco, Carlos Chambelland, Carlos De Servi, Dario Villares Barbosa, Edgard Parreiras, Eliseu Visconti, Eugênio Latour, Gaston Gérard, Georgina de Albuquerque, Giuseppe Leone Righini, Henrique Bernardelli, José Ferraz de Almeida Júnior, Lucilio de Albuquerque, Marques Campão, Modesto Brocos, Nicolas Antoine Taunay, Numa Camille Ayrinhac, Oscar Pereira da Silva, Pedro Américo, Pedro Peres, Pedro Weingartner, Rafael Frederico, Regina Veiga, Rodolfo Amoedo, Rodolpho Bernardelli, Theodoro Braga e Theodoro de Bona.