Após exaltar contribuições africanas e portuguesas, instituição apresenta a arte dos povos originários do país e completa trilogia de exposições
das etnias fundadoras do Brasil
O Museu Afro Brasil, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, gerida pela Associação Museu Afro Brasil – organização social de cultura, promove no próximo dia 25 de janeiro (sábado), às 11h, a abertura da exposição Heranças de um Brasil profundo, que reúne mais de 500 objetos entre obras de arte e utensílios da cultura material indígena de raiz brasileira. A grandiosa mostra encerra a trilogia de exposições as quais a instituição vem se dedicando nos últimos anos ao iluminar as contribuições artísticas e culturais dos povos que deram origem ao Brasil. A trilogia teve início com Africa Africans, em 2015, e foi seguida por Portugal, Portugueses – Arte Contemporânea, em 2016.
Ainda na manhã do dia 25, como parte das comemorações em homenagem aos 466 anos da cidade de São Paulo e paralelamente a abertura da exposição, o Museu Afro Brasil promove o pocket-show da rapper, atriz e ativista indígena Katú Mirim. Na mesma data e local, o professor Carlos Eugênio Marcondes de Moura, realiza o lançamento do livro Viemos de longe, para longe vamos – Povos originários do Brasil. Dos paleoíndios à contemporaneidade – Uma bibliografia.
SOBRE A EXPOSIÇÃO
Com curadoria de Emanoel Araujo, a exposição Heranças de um Brasil profundo reúne arte plumária, adornos, máscaras, fotografias, esculturas, utensílios e arte contemporânea de povos indígenas como: Karajá, Marubo, Kayapó, Mehinako, Yanomami, Rikbaktsa, Tapirapé, Waurá, Tapayuna, Baniwa, Ashaninka, Parakanã, Panará e Juruna.
Entre os artistas indígenas contemporâneos presentes na exposição está o jovem Denilson Baniwa, do povo indígena Baniwa e natural do Rio Negro, interior do Amazonas. Vencedor do prêmio PIPA Online 2019, o artista apresentará três trabalhos na exposição, entre eles uma pintura inédita, realizada nas paredes internas do Museu Afro Brasil.
Outro destaque da mostra é a Casa dos Homens, construída por um grupo de quatro indígenas do povo Mehinako (Yuta, Itsaukuma, Kauruma e Wapitsewe Mahinako), um dos muitos habitantes da região conhecida como Alto Xingu (englobada pelo Parque Indígena do Xingu). Eles também estarão presentes na abertura da exposição.
Heranças de um Brasil profundo apresenta ainda um premiado grupo de fotógrafos e fotógrafas que se dedicaram (ou ainda se dedicam) a documentação de populações indígenas brasileiras, como Claudia Andujar, Rosa Gauditano, Maureen Bisiliat, Nair Benedicto, Manuel Rodrigues Ferreira, Rodrigo Pretella, Jamie Stewart-Granger, entre outros.
A exposição que ocupa todo o subsolo do Museu Afro Brasil exibe também um destacado grupo de peças de valor antropológico. São obras da arte que compõe o rico universo do fazer artístico de diferentes grupos indígenas brasileiros em suas representações zoomorfas de apelo artístico e cultural. Sua cultura artística, especialmente o trabalho com a cerâmica e cestaria, hoje amplamente incorporada nas tradições populares das regiões norte e nordeste.
“Essa ideia da herança tem o objetivo de trazer de volta a nossa memória a arte dos povos da floresta no que ela tem de mais esplendoroso que são as artes plumárias, mas também a arte dos objetos de uso, objetos simbólicos dessa cultura brasileira extraordinária. E também traz ao mesmo tempo uma visão de fora, de alguns dos mais importantes fotógrafos do Brasil. Além disso, a exposição conta com a construção de uma Casa dos Homens, da nação Mehinako, onde os visitantes poderão entrar e sentar nos bancos também construídos por eles, para fazer uma reflexão sobre o Brasil, sobre as nossas origens, sobre a defesa desses indígenas, dessa gente forte e resiliente que habita sobretudo o Amazonas, o Xingu e o Mato Grosso. Também haverá a representação de diferentes manifestações artísticas como gravuras, esculturas de artistas modernos, especialmente de São Paulo. Outro destaque é o painel com fotos originais do fotógrafo alemão Albert Frisch, que fotografou povos da Amazônia no século XIX”, explica Emanoel Araujo, curador da exposição.
Heranças de um Brasil profundo, exposição que busca romper com a ideia que vê nos indígenas e em sua arte o suprassumo da “inocência” ou o olhar folclórico, somente cheio de deuses, monstros e mitos, dentre tantos outros preconceitos impostos a esta cultura original, fica em exibição no Museu Afro Brasil até 26 de julho de 2020.
Link para fotos da exposição Heranças de um Brasil profundo
https://drive.google.com/open?id=19X0y_A101tmLPrjajJ5YNoYifYnvwrxg
Livro apresenta compilação de mais de nove mil publicações sobre a presença indígena no Brasil
Ainda na manhã de sábado (25), paralelamente a abertura da exposição, o professor Carlos Eugênio Marcondes de Moura, em parceria com o Museu Afro Brasil, promove o lançamento do livro Viemos de longe, para longe vamos – Povos originários do Brasil. Dos paleoíndios à contemporaneidade – Uma bibliografia. Com cerca de 400 páginas, a publicação reúne mais de nove mil bibliografias compiladas por meio de uma vasta pesquisa a dicionários, enciclopédias, livros e capítulos de livros, coletâneas, dissertações de mestrado, teses de doutorado, artigos em revistas, anais e simpósios, cinema e vídeo, exposições e catálogos.
“Procurou-se tematizar, na medida do possível, os assuntos abordados, tendo em vista facilitar sua localização. Certos temas se impuseram como, por exemplo, direitos indígenas, territórios e demarcações, arqueologia, cerâmica pré-colonial, artes e artesanato, contos, lendas e mitos escritos ou evocados por autores indígenas e não indígenas, linguística, ritos e rituais, xamanismo, educação e saúde. Entre os autores indígenas destaca-se Daniel Munduruku, que entre 1997 e 2018 teve publicados cinquenta livros de contos, além de participar de antologias e coletâneas”, destaca Carlos Eugênio, autor da obra.
As bibliogafias publicadas foram dispostas numa linha de tempo, que se estende dos paleoíndios até o século 21. Aliás, logo na introdução do livro, Carlos Eugênio explica a utilização do termo: “na concisa definição do Dicionário Houaiss da língua portuguesa, paleoíndio é relativo a ou membro do povo ou cultura dos ocupantes mais remotos da América, possivelmente caçadores de origem asiática que se instalaram nesse continente a partir do pleistoceno. E é a partir dos paleoíndios, habitantes dos territórios a que, milênios mais tarde, se deu o nome de Brasil, que se inicia esta tentativa de bibliografia”, conta.
Viemos de longe, para longe vamos – Povos originários do Brasil. Dos paleoíndios à contemporaneidade – Uma bibliografia é a segunda colaboração de Carlos Eugênio com o Museu Afro Brasil. Em 2012, ele já havia lançado Afronegros. Seus descendentes: Brasil. Uma bibliografia em construção. 1637-2011, ambos editados pela Associação Museu Afro Brasil.
SERVIÇO
Abertura da exposição Heranças de um Brasil profundo + Pocket-show com Katú Mirim + Lançamento do livro Viemos de longe, para longe vamos – Povos originários do Brasil. Dos paleoíndios à contemporaneidade – Uma bibliografia
Dia 25 de Janeiro, sábado, às 11h
Museu Afro Brasil
Entrada gratuita