Josy Santos, mezzo-soprano de carreira internacional, estudou canto no Projeto Guri de Caraguatatuba
Do Guri para o Mundo
Cantora lírica de 31 anos, Josy Santos foi solista no Ensemble da Staatsoper, de Hannover, onde atuou em óperas como A Flauta Mágica, de Mozart; e Salomé, de Richard Strauss. Atualmente, seu nome é destaque na programação do Tokyo Especial Concert – 2020, ao lado da Berliner Philharmoniker (apesar do adiamento do evento por conta da pandemia). Conquistar o prestígio internacional, porém, foi um longo caminho para a jovem de Araras, distrito de Campo Formoso, interior da Bahia, que se mudou ainda pequena com a família para Caraguatatuba, interior de São Paulo. Josy tinha 12 anos e cantava no coral da igreja quando um educador sugeriu que ela estudasse música no programa em que ele dava aula, o Projeto Guri.
Josy ingressou no curso de canto coral, onde permaneceu por dois anos. “Meu professor (do coral da igreja) achava minha voz especial e disse que eu deveria aprofundar os estudos. Quando ingressei no Projeto Guri foi uma grande realização em todos os sentidos. Eu morava em um bairro mais afastado do centro e tive que me adaptar à rotina de pegar transporte sozinha e isso me trouxe amadurecimento pessoal. Foi um momento marcante porque ajudou no meu desenvolvimento e, também, foi possível adquirir conhecimento sobre a música”, descreve a ex-aluna do Projeto Guri – maior programa sociocultural brasileiro mantido, mantido pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.
Ainda no Projeto Guri, Josy acompanhou uma apresentação do Água Viva Coral, de Caraguatatuba, e se encantou. Fez um teste para o grupo, que tinha como coordenadora a maestrina Eliane Baneza, e foi aprovada. “Já tinha conhecimento de música por ter estudado no Guri. Acredito que foi o que me ajudou a ser aprovada no coral. Foi ali que percebi que gostaria de levar a música de uma forma profissional”, afirma.
Aos 17 anos, prestou vestibular para o curso de música da Universidade Estadual Paulista (Unesp), mas, por não possuir estudos aprofundados de história da música, não conquistou a vaga. Mesmo assim, não desistiu do seu sonho de ser cantora profissional. É neste momento que Maria Luiza França, pianista e professora de piano, entra na vida da cantora, em 2006. “Antes de prestar a prova da Unesp contei com algumas orientações da Maria Luzia França. Quando não fui aprovada, ela me ligou e se mostrou impressionada com a minha força de vontade e disse que iria me ajudar”, relembra.
Maria Luiza, que desde 2008 desenvolve o projeto “MusicAmar”, em Caraguatatuba, forneceu uma bolsa de estudos para a jovem aprender sobre técnica vocal e repertório, em São Paulo, com a professora e soprano Márcia Regina Soldi. Já em 2007, Josy ingressou na Universidade Cruzeiro do Sul, no curso de Canto Lírico. “Em meu primeiro ano como universitária, me dividi entre o curso e um trabalho fora da área musical, mas ficava muito tempo sem contato com a música e precisava solucionar a situação”, descreve.
A mudança foi alcançada quando a profissional entrou na Escola de Música do Estado de São Paulo – EMESP Tom Jobim. Lá, conheceu o Ópera Estúdio, coordenado pelo músico Mauro Wrona, e fez parte do projeto por dois anos. Em 2011, participou do Festival Música em Trancoso, do Mozarteum Brasileiro Associação Cultural – programa que revela jovens cantores brasileiros e oferece a oportunidade de participar de masterclasses com professores de renome internacional – e conquistou uma bolsa de estudos na Alemanha, para o ano seguinte, com todas as despesas incluídas.
Ao retornar ao Brasil, recebeu um convite para fazer um concerto com o Mozarteum Brasileiro e, nesse momento, conheceu Sabine Lovatelli, fundadora da orquestra. “Eu tinha o sonho de dar sequência aos estudos fora do País. A Sabine conheceu minha história e me forneceu uma bolsa para aprofundar meu conhecimento para as provas que pretendia realizar em Hamburgo e Frankfurt. Com o auxílio, consegui parar totalmente de trabalhar e foquei apenas nos preparativos para as provas”, explica.
Em março de 2013, a jovem cantora lírica viajou para a Alemanha e, felizmente, foi aprovada nas duas escolas de música, mas optou por estudar em Frankfurt. Em 2016, concluiu seu mestrado em Ópera na Universidade de Frankfurt de Música e Artes Cênicas (HFMDK) e passou a integrar o Ópera Estúdio, da Ópera de Stuttgart, na Alemanha.
“Foi em 2013 que começou a minha carreira internacional. No início, morando fora do Brasil, encontrei muitas dificuldades. Driblar a saudade da família, dos amigos, da cultura e da comida foi um processo difícil. Me encontrei em uma posição na qual não conhecia nada, nem ninguém. Mas, foi um processo importante para o meu crescimento profissional”, avalia.
Segundo a artista, outro desafio foi aprender um instrumento musical. “Em outros países, todos os cantores sabem tocar um instrumento para fazer seu próprio acompanhamento. Precisei aprimorar minha formação musical e decidi aprender piano”, informa ela acrescentando que, para outros jovens que desejam tentar carreira em outros países, devem estudar o idioma da localidade ou, pelo menos, saber inglês. “Isso torna a adaptação mais fácil e as pessoas te aceitam melhor”, diz.
Carreira de sucesso
De 2015 a 2017, Josy Santos integrou a Ópera de Stuttgart como Elevin em numerosos papéis, incluindo Siebel em Fausto, de Gounod; Oberto, em Alcina, de Haendel; Magd, em Elektra, de Strauss e Cherubino; e em As Bodas de Figaro, de Mozart e foi cover de Mercédès, em Carmen, de Bizet. A mezzo-soprano já trabalhou com diretores renomados como Frank Castorf, Peter Konwitschny, Jossi Wieler e maestros como Sylvain Cambreling, Ulf Schirmer, Marc Soustrot, Lorenzo Viotti, Giuliano Carella e Ivan Repusic.
Também com passagens em Óperas como Il Viaggio a Reims e National du Rhin, a cantora lírica hoje escolhe os projetos que deseja realizar. “Já tive contrato fixo com várias companhias, mas decidi que era o momento de ter mais liberdade profissional. Tenho dois agentes na Europa e um no Brasil que me ajudam com alguns contatos. E tento conciliar tudo isso com meu doutorado em Ópera que realizo pela Universidade de Frankfurt, desde 2019”, informa.
Josy Santos é detentora de prêmios em inúmeros concursos, entre eles, o Anneliese Rothenberger Competition, em 2017, Operalia e Emmerich Smola Förderpreis, ambos em 2018; e o 52º Concurso Internacional de Canto de Toulouse, em 2019. Participou, ainda, de Festivais Internacionais de Canto como: Rheingau Music Festival, Kammeroper Schloss Rheinsberg, Opera Schloss Hallwyl e Festival de Música em Trancoso em diversas edições.
Sobre as metas para o futuro, a cantora afirma que tem projetos programados para o segundo semestre de 2020 e outros já fechados para 2021. Também tem o sonho de cantar em alguns teatros de renome internacional. “Acredito que ainda tenho muito a amadurecer, muitos papeis para realizar e muitos lugares que desejo cantar, mas me sinto realizada com todas as conquistas que tive até agora. Também quero me tornar mais conhecida no Brasil, pois minha carreira é totalmente fora do País”, conclui Josy.
Projeto Guri www.projetoguri.org.br
Patrocinadores e apoiadores do Projeto Guri – Sustenidos: CTG Brasil; CCR AutoBAn; Instituto CCR; SulAmérica; VISA; Bayer; WestRock; Microsoft; Supermercados Tauste; Banco Votorantim; VALGROUP; Novelis; EMS; Capuani do Brasil; Faber-Castell; Pinheiro Neto; Santander; Raízen; BTP; Distribuidora Ikeda; Grupo Maringá; Instituto 3M; Supermercados Rondon; Frigol; Mercedes-Benz; Castelo Alimentos; ENEL; GRUPO GR; Cipatex; Grupo Herval e Pirelli.
Sobre o Projeto Guri
Mantido pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo, o Projeto Guri é o maior programa sociocultural brasileiro e oferece, nos períodos de contraturno escolar, cursos de iniciação musical, luteria, canto coral, tecnologia em música, instrumentos de cordas dedilhadas, cordas friccionadas, sopros, teclados e percussão, para crianças e adolescentes entre 6 e 18 anos (até 21 anos nos Grupos de Referência e na Fundação CASA). Cerca de 50 mil alunos são atendidos por ano, em quase 400 polos de ensino, distribuídos por todo o estado de São Paulo. Os mais de 330 polos localizados no interior e litoral, incluindo os polos da Fundação CASA, são administrados pela Sustenidos, enquanto o controle dos polos da capital paulista e Grande São Paulo fica por conta de outra organização social. A gestão compartilhada do Projeto Guri atende a uma resolução da Secretaria que regulamenta parcerias entre o governo e pessoas jurídicas de direito privado para ações na área cultural. Desde seu início, em 1995, o Projeto já atendeu mais de 810 mil jovens na Grande São Paulo, interior e litoral.
Sobre a Sustenidos
Eleita a Melhor ONG de Cultura de 2018, a Sustenidos administra o Projeto Guri. Desde 2004, é responsável pela gestão do programa no litoral e no interior do estado de São Paulo, incluindo os polos da Fundação CASA. Além do Governo de São Paulo, a Sustenidos conta com o apoio de prefeituras, organizações sociais, empresas e pessoas físicas. Instituições interessadas em investir na Sustenidos, contribuindo para o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes, têm incentivo fiscal da Lei Rouanet e do Fundo Municipal da Criança e do Adolescente (FUMCAD). Pessoas físicas também podem ajudar. Saiba como contribuir: https://www.sustenidos.org.br/pessoa-fisica/.